No texto de hoje irei apresentar algumas atitudes para a redução de perdas de água. Você sabia que grande parte da água é perdida ao longo do processo de abastecimento? Você sabe quais as consequências disso?

A água é um recurso natural fundamental para a sobrevivência. O planeta Terra é coberto por aproximadamente 1,4 bilhão de km³ de água, sendo 97,5% de água salgada e 2,5% de água doce. Dessa pequena parte, quase 70% estão em geleiras e calotas polares.

A distribuição de água no mundo é um grande desafio. Diversos países travam disputas pelo acesso a água, enquanto outros sofrem as consequências da falta de abastecimento. Para as empresas de distribuição, um dos maiores desafios é a redução de perdas de água.

Em qualquer processo de abastecimento de água por meio de redes de distribuição ocorrem perdas do recurso hídrico.  Existem dois tipos de perdas:

  • Perdas reais: quando o volume inicial de água disponibilizado pelas operadoras é desperdiçado durante o processo de distribuição;
  • Perdas aparentes: quando, apesar da distribuição de água atingir o consumidor final, o produto não é cobrado adequadamente seja por problemas técnicos na medição ou por fraude do consumidor.

A abordagem econômica de cada tipo de perda se diferem, pois, as perdas reais recaem sobre os custos de produção e distribuição da água, enquanto as perdas aparentes atingem os custos de venda da água, acrescidos dos custos da coleta de esgotos.

Dessa forma, as perdas trazem impactos negativos para a sociedade, meio ambiente, receita das empresas e até mesmo aos investimentos necessários aos avanços do saneamento básico. Será que a sua empresa enfrenta esse mesmo problema?

No Brasil, conforme dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), de toda água coletada e tratada em 2015, cerca de 37,5% foi perdida, seja com ligações clandestinas, vazamentos, roubos, falta de medição ou medições incorretas no consumo.

Para se ter uma noção, se somássemos toda a água perdida durante o ano seria possível abastecer seis sistemas Cantareira. Preocupante? Sim.

Perdas de água no Brasil

O Brasil está no topo da lista dos países com maiores reservas de água. Entretanto, peca na distribuição desse bem. Em 2013, o Instituto Trata Brasil realizou um estudo chamado “Perdas de água: entraves ao avanço do saneamento básico e riscos de agravamento à escassez hídrica no Brasil”, que identificou a situação das perdas de água do Brasil.

A pesquisa fez uma comparação das perdas de águas e a receita operacional das operadoras verificando possíveis ganhos financeiros e ambientais de acordo com a disponibilidade hídrica dos estados e regiões.

Em grandes números, observou-se que a média brasileira de perdas de faturamento era igual a 37,57% e as perdas financeiras totais foram em torno de 39%. Essa porcentagem significa que os recursos não entraram como receitas no setor.

Ainda de acordo com o estudo, naquele ano, 6,53 bilhões de m³ de água tratada não foi faturada pelas empresas, totalizando uma perda financeira de R$ 8,015 bilhões ao ano. Isso equivale cerca de 80% dos investimentos em água e esgoto realizados no mesmo período.

Na projeção da análise, se em cinco anos houvesse uma redução de 15% nas perdas de água no Brasil, os ganhos totais acumulados em relação ao ano inicial seriam de aproximadamente R$ 3,85 bilhões.

Quando comparado a países desenvolvidos, o Brasil fica distante, e é notável o grande espaço para mudanças. Dados de 2015 apontam o Brasil na 20ª posição do ranking internacional de perda de água. Austrália e Estados Unidos ocuparam o topo, com índices de 7% e 13% respectivamente.

Curioso para saber como sua empresa pode melhorar? Então, vamos lá.

Atitudes de redução de perdas de água que beneficiam o país

Ao analisar os indicadores ao longo dos anos, observa-se uma tendência em queda nos índices percentuais. Dados do SNIS de 2013 apontam essa redução, como pode ser analisado na figura abaixo.

Índice de perdas de água no Brasil no período de 2009-2013.

Apesar dos avanços, ainda são necessários muitos esforços para atingir níveis eficientes.

No período de cinco anos (2009-2013), a média da redução de perdas de água foi de 3,30 pontos percentuais (p.p.) para perdas de faturamento e 3,68 p.p. em relação à distribuição. Isto é, as perdas têm caído menos de 1 ponto percentual ao ano. Isso mostra a necessidade de mais velocidade no ritmo da redução.

Assim, as estratégias de redução de perdas devem combinar ações para a melhoria da gestão e técnicas que permitam quebrar os paradigmas em relação às dificuldades comumente apontadas pelas empresas.

O Instituto Trata Brasil propõe algumas atitudes, por parte das concessionárias, que impactam na redução das perdas:

1- Criar contratos com incentivos e foco na redução de perdas

As formas desses contratos podem ser diversas: contratos de performance, parcerias pública-privadas; parcerias público-público; e contratos de assistência técnica.

2 – Direcionar maior financiamento para ações dessa natureza

Há a necessidade de aumentar o financiamento para programas de redução de perdas no âmbito federal. Por exemplo, no PAC 2, de um total de R$ 45 bilhões para água e esgotos foram incluídos, inicialmente, apenas R$ 2 bilhões de reais para perdas.

3 – Gerenciamento do controle de perdas

Implementação de planos de gestão de perdas baseados no conhecimento do sistema, indicadores de desempenho e metas preestabelecidas.

4 – Entender as dificuldades para a setorização dos sistemas de abastecimento, acompanhado de um plano de médio e longo prazo com ações para o controle das perdas na distribuição

5 – Aumentar o índice de hidrometração dos diversos sistemas e utilizar hidrômetros de maior precisão

6 – Criação e monitoramento de programas de redução de perdas sociais com a participação dos atores envolvidos

7 – Replicar experiências exitosas de operadores públicos e operadores privados nas regiões mais deficitárias, especialmente as Regiões Norte e Nordeste, onde se situam os maiores desafios

Reduzir perdas de acordo com seu tipo

A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) indica algumas ações de acordo com o tipo de perdas:

Para controle das perdas reais, as ações se diferenciam para cada tipo de vazamento:

  • Vazamentos não visíveis, de baixa vazão, não aflorantes e não detectáveis por métodos acústicos de pesquisa: Deve-se observar a qualidade da mão de obra e dos materiais utilizados, e, eventualmente, reduzir a pressão da rede.
  • Vazamentos não visíveis, não aflorantes, mas detectáveis por métodos acústicos de pesquisa: Nesses casos, além das ações anteriores, deve-se aumentar a pesquisa de vazamentos.
  • Vazamentos visíveis, aflorantes ou ocorrentes nos cavaletes; extravazamentos nos reservatórios: Além as ações anteriores, deve-se também controlar o nível dos reservatórios.

Já para as perdas aparentes, as ações para controle incluem:

  • No âmbito da macromedição, as ações adequadas são a instalação adequada de macromedidores e a calibração dos medidores de vazão.
  • No âmbito da gestão comercial, as ações incluem o controle de ligações inativas e clandestinas.
  • No que concerne à micromedição, as ações abrangem a instalação adequada e a substituição periódica dos hidrômetros.

No geral, a ABES recomenda a elaboração de um plano de ação com metas e indicadores de controle. Assim é possível planejar, acompanhar e avaliar as atividades conforme forem sendo realizadas.

Além disso, no que tange ações estruturais, recomenda-se contratos de assistência técnica, terceirização de partes dos serviços, contratos de performance e parcerias.

Achou complicado? Existem diversos exemplos de concessionárias buscando a redução das perdas e melhorias dos números. Lhe apresentarei alguns deles.

Exemplos reais

Algumas concessionárias têm trabalhado para a redução das perdas de água e melhoria dos serviços prestados.

Águas Guariroba: PRP – Programa de Redução de Perdas

Dentre as ações do programa, a empresa destaca: as ações para o combate à fraude, troca de hidrômetros antigos, calibração ou troca de macromedidores, subdivisão de setores de fornecimento de água, controle do volume de água disponibilizado durante a noite, ações preventivas e agilidade no reparo de vazamentos e maior controle de qualidade dos materiais utilizados pela empresa.

Sabesp: Programa de Redução de Perdas na Região Metropolitana de São Paulo

A empresa tem utilizado indicadores para controle de vazamentos e realizado algumas ações de redução. Por exemplo, foram feitas ações de controle da pressão na rede de distribuição, pesquisa de vazamentos não visíveis em área, agilidade e qualidade no reparo de vazamentos, troca seletiva de redes e ramais e melhoria da qualidade dos materiais utilizados.

Caesb: Programa de Controle e redução de perdas de água do Distrito Federal

O programa, de acordo com a operadora, foi dividido em duas etapas. A primeira consistiu na elaboração de um planejamento estratégico e atividades de recuperação de reservatórios. Realizou-se também pesquisas de vazamentos, instalação de válvulas redutoras de pressão, expansão e modernização da macromedição, pesquisa de ligações clandestinas e substituição de hidrômetros.

Na segunda fase, que ainda está ocorrendo, planeja-se investir recursos na setorização de toda a rede de distribuição e monitorar continuamente as operações.

 

O Brasil ainda carece de muito investimento e planejamento para redução das perdas de água e maior aproximação de países desenvolvidos. Entretanto, já é notório a redução dessas perdas ao longo dos anos e a preocupação de algumas concessionárias nesse quesito. É importante a preocupação com as perdas. Afinal, elas impactam diretamente em recursos financeiros e consequentemente, na economia do país.

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